30.8.07

Cenas de SP

Qualquer dia útil da semana, inverno com cara de verão, três da tarde. A Consolação está entupida em ambos os sentidos, põe primeira, põe segunda, pára. No carro da polícia, dois conversam na frente, o meliante atrás, sentado, mãos juntas nas costas, tronco encurvado, joelhos dobrados, a cabeça vai pendurada, meio baixa.

A viatura segue, devagar. O sol esquenta. No canteiro central, os dois ipês-amarelos estão no resplendor. Uma cabeça vira, a outra, a terceira levanta. O trânsito segue, o carro não. Por um momento, os três esquecem onde estão.

(domingo, agosto 21, 2005)

29.8.07

Das intenções

"Nham, nham, que apetitoso!"

Tá, confesso, não foi isso que pensei quando o namorido me presenteou com a entradinha ao lado. Mas estava tão linda que não resisti a fotografar.

- Duas folhas de endívia
- Uma fatia generosa de tomate
- Cebolinha francesa
- Sal, pimenta (no caso, uma turca vermelhinha e deliciosa) e vinagre balsâmico

27.8.07

O presente frugal

Minha primeira lembrança de feira vem das viagens ao Rio. Provavelmente acompanhava uma tia. Lembro de corredores estreitos, empurra-empurra, o carrinho de ferro era quase da minha altura. O cheiro de coentro estava misturado ao da banana, com um toque de alho. Sob as copas das árvores, tudo era lusco-fusco, os movimentos, ansiosos, a mulata carregava as compras para a casa da patroa - e pescoços virados a acompanhavam aos assobios. Então bailarina, eu ensaiava saltos sobre tomates esmagados, cascas de banana e poças d'água, num balé grandiloqüente.

Em Pinheiros há poucas alamedas para receber a feira, então o Sol inclemente traz luz e calor - difícil manter a frescura dos produtos assim. Ando, não salto mais, de óculos escuros pela fotofobia, mas envergonhada: feira não combina com fleuma, ora. Agora consigo identificar o coentro da banana do alho, mas penso em misturar tudo numa panela para sentir o cheiro novamente.

Olho ao redor. É tudo limpo, tudo calmo, tudo organizado. "Reage, Oscar Freire!", grita o vendedor. Quero gritar com ele. Apenas tiro os óculos para escolher os legumes. A feira se transformou dentro de mim, fora também.

Lembro dos pulmões a toda dos feirantes cariocas, das frases prontas. Entendo a posição dos moradores de São Paulo, que não agüentam a algazarra. Só que sinto saudade.

26.8.07

O que é, o que é?

É esperada após férias?
Acaba com o humor de qualquer mulher?
É o pesadelo de quem gosta de cozinhar?

Quem falou DIETA acertou. Poisé, cenouras e senhores, estou vivendo em restrição calórica.

Ontem comecei devagar, almoçando salada. E, à noite, me despedi do lindo mundo dos despreocupados com a pizza de abobrinha e a de alho-poró do I Viteloni, mais sorvete de capim-cidreira na sobremesa - tudo comida verde, para acostumar a vista.

Hoje fui à feira e comprei um montão de verduras. Foi meu almoço, acompanhado de franguinho e embalado por suco com adoçante. Olhei para a parede enquanto o namorido comia feliz um alfajor, bebericando meu café sem açúcar. Injustiça saber que os homens emagrecem bem mais fácil, não?

23.8.07

Mudança de hábitos puxa food service

O faturamento do food service cresceu 20% em 2006, segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). Entre as franquias de fast food, o aumento foi ainda mais acentuado (26%), de acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF).

“O brasileiro passou a comer mais vezes fora de casa e o hábito já não é mais exclusividade da população dos grandes centros urbanos. Esse fator, com certeza, contribui para o aumento no faturamento das redes de fast food e influencia todo o setor, até mesmo a produção da indústria alimentícia”, diz a consultora Ana Vecchi, da Vecchi & Ancona Estratégia e Gestão.


Leia mais aqui.

Comentário da blogueira: "food service"? Que tal setor de alimentação?

20.8.07

Are you nuts?!

A partir de duas semanas antes das férias começarem, consegui errar todas as receitas que testei. Culpei o stress, óbvio, guardei as facas e parei tudo.

Aí voltei e a mão ruim continua.

Tentei fazer uma pecan pie com castanhas-do-Pará, trazidas do Ver-O-Peso, em Belém. Ficou tempo demais no forno: a massa virou um biscoito duro (culpa minha), as bordas secaram (também culpa minha) e as castanhas formaram uma capa sobre o recheio, em vez de ficarem "delicadamente envoltas" como as visualizei na mente. Só que isso não foi culpa minha!

Namorido comentou um tal Brazil nut effect. Segundo ele, a castanha sempre sobe, seja em ambientes secos, como a granola, ou molhados, como minha, hum, hã, torta. Não coloquei fé num primeiro momento. Mas a memória do nêgo é realmente boa.

Apr 11, 2001
Cracking the Brazil nut problem
How do Brazil nuts find their way to the top of a bowl of nuts while the smaller nuts filter to the bottom? The phenomenon of segregation in mixtures of particles takes its name from this effect, but nobody has managed to predict or control the process. Now Daniel Hong of Lehigh University in the US and colleagues have identified a new kind of sifting effect - 'condensation' - and developed a theory that predicts the behaviour of the 'Brazil nut problem' (D C Hong et al 2001 Phys. Rev. Lett. 86 3423).


Primeira moral da história: a física é fantástica... menos quando estraga meus planos culinários

Segunda moral da história: as facas continuam na gaveta

17.8.07

Croc Blergh!

Mal voltei de viagem e vejo, em dois dias por São Paulo, quatro pessoas adultas e aparentemente sãs usando uns tamancos horrorosos, gigantescos e coloridos para fazer compras e trabalhar. Pensei que fossem aqueles sapatos usados por cozinheiros e jardineiros. Mas o que diabos estavam fazendo nas ruas?

Dois segundos no Google foram suficientes para acabar com o enigma: são Crocs, tamancos horrorosos, gigantescos e coloridos que viraram febre nos Estados Unidos como uma bandeira pró-conforto-não-dou-a-mínima-para-moda-thing. Há textos e mais textos sobre isso em jornais e revistas americanas (parece até que a Veja, a grande antropófaga nacional, colocou alguém para escrever sobre o tema, mas tenho preguiça de procurar naquele site), além de blogs e sites de apoio e ódio.

Dizem os usuários que os Crocs são confortáveis como o céu. Que sejam felizes. Pra mim, é como sair de casa de pijamas ou direto da cozinha para a rua sem tirar o avental sujo - e os tamancos de trabalho. E, como se isso já não fosse suficiente para me impedir de comprá-los, aqui está uma boa razão:



15.8.07

Pílulas das férias

O que aprendi nas últimas cinco semanas:

- O sorvete de bacuri da Cairu, em Belém, consegue ser melhor do que o de tapioca

- Tirar polpa de cupuaçu é tarefa que avó passa para neto fazer assistindo TV

- Tout le monde peut faire la cuisine

- Azeite de dendê demais ou ruim deixa uma sensação esquisita e desagradável na boca

- Além do Dramin, comer frutas e biscoitinhos é a melhor maneira de não enjoar em mar aberto

- Carne argentina não é temperada: um salzinho e olhe lá

- Vinhos do Novo Mundo não podem ser guardados por décadas, mas consumidos em 15 anos no máximo, ou viram vinagre

- Os tradicionalíssimos produtores de vinho ao redor do mundo são terminantemente contrários ao emprego da biotecnologia (aka transgênicos) nos negócios. Foi o que escutei de um jovem enólogo, com uma certa revolta e algum desdém na voz, em pleno território mendocino. (A Argentina, para quem não sabe, foi a porta de entrada da soja transgênica no Brasil.) Aguardem novos capítulos nos anos a vir

Voltei!

Acabaram as férias. Recomeça tudo. Bem devagarinho, tá?