30.6.07

29.6.07

Vem com manual?

Falando em cupuaçu, vi que o Pão de Açúcar está vendendo a fruta em lojas de São Paulo (num novíssimo setor de "frutas esquisitas de lugares exóticos", tais quais a Amazônia). Dou vivas, afinal é produto nacional e até recentemente só era possível encontrar no mercadão. E traficado - segundo os vendedores, era proibido trazer pro Sudeste, então vinha escondido no meio de outras frutas. Sei lá o motivo.

Lembro perfeitamente da única e última vez que comprei. Tinha acabado de voltar de Manaus, onde me esbaldei de suco e mousse de cupuaçu por uma semana. Voltei com uma receita do doce e a idéia fixa de experimentá-lo assim que possível.

Poucos dias depois, adentrei no mercado negro das frutarias paulistanas atrás do bendito. Já tinha marcado com amigos uma pizza ou algo do gênero à noite e queria-porque-queria servir a mousse de sobremesa. Mas acho que tenho cara de polícia - ninguém tinha, ninguém viu, ninguém sabe. Quando já estava desanimando, achei um mocinho que tinha "uns dois ou três", mocados no fundo da barraca.

Me chamou prum canto e falou baixo.
"- A moça quer só um?
- É, acho que um tá bom.
- A moça tem como abrir?
- ........
- A moça sabe abrir?"

Olhei pro cupuaçu e sua cobertura aveludada e caiu a ficha: a casca é dura feito um coco verde. E, tal como ele, deve ser aberto no facão. Minha cara de desespero foi a chave pro rapaz abrir a fruta pra mim, quebrando no meio com certo sacrifício e expondo o interior branquinho.

Saí feliz e vitoriosa do mercadão, com o cupuaçu aberto e cheirando horrores num saco plástico. O carro ficou empesteado, graças ao calor dantesco. "Tudo bem, porque eu tenho meu cupuaçu." Escancarei as janelas e fui cantarolando pra casa.

Assim que cheguei, corri pra cozinha. "Vai ficar uma delícia", pensei, rindo um pouco dos pobres paulistanos mortais que se contentam com cupuaçu congelado. Peguei uma colher de sopa para retirar a polpa. Surpresa: a colher não entrava. Ao contrário de todas as outras polpas, esta era fibrosa e gelatinosa ao mesmo tempo. Não esmaeci, peguei uma colher maior. Nada. Meti a mão e o interior se desgrudou todo da casca. "Ok, não devia ser diferente antes de os europeus chegarem."

Coloquei num pote. O cheiro forte começava a me nausear. Precisava separar as sementes, grandes e escuras como olhos. Agarrei com esforço uma delas, puxei e nada: continuava grudadinha na polpa, protegidinha. "&@#%! Como ela pode germinar assim?" Puxei com mais força. Lembrei do facão do fruteiro e busquei uma faquinha na gaveta. Tentei cortar, enfiar, espetar, serrar; tentei tudo de novo com uma faca maior. Nada.

Suando e xingando a biodiversidade brasileira, faço uma última tentativa antes de mandar tudo às favas e comprar um sorvete industrializadíssimo: uma tesoura. Apelei mesmo. Vários tec-tec-tecs depois, havia conseguido enfim meu intento. Meses mais tarde, vim a saber que esta é a única maneira mesmo de tirar as sementes.

Bati a polpa com creme de leite e leite condensado no liqüidificador rapidinho, já de saco cheio dessa história e louca pra me livrar daquele cheiro. Dizem que ficou bom: eu provei um pouco, só pra não ficar chato, mas o bode estava amarrado demais no meu pé para achar delicioso.

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Então siga os conselhos: se resolver investir os 11 reales cobrados pelo Pão de Açúcar num único cupuaçu, certifique-se de que tem meios para abrir a fruta e uma tesoura afiada em casa. O gosto é realmente único e viciante. Vale a pena quando vem um manual de instruções...

Sabor do meio do mundo

No fim do ano passado, estava em Macapá quando o Sebrae local promoveu um festival gastronômico. Presente no lançamento, organizado num restaurante que fica na linha do Equador, comi de tudo um pouco (e fotografei um monte), encantada que sou com os sabores do Norte.

Dia desses encontrei as fotos. Aqui está um dos pratinhos que provei, uma tapioca com doce de cupuaçu, camarão e queijos. Dá pra fazer só doce ou só salgado, se quiser.

Tapiokita Pororoca, do restaurante Tapiokita Tapiocaria
- 100 gramas de goma de tapioca peneirada
- 50 gramas de camarão regional, sem casca
- ½ maço de cheiro verde picado
- 50 gramas de requeijão
- 10 ml de azeite
- 10 gramas de cebola picada
- 10 gramas de pimentinha cheirosa, picada
- 15 gramas de queijo prato
- 25 gramas de mussarela
- Sal, pimenta do reino e noz moscada a gosto
+
- 90 gramas de massa de cupuaçu
- 50 gramas de açúcar
- 50 ml de água
- Chantilly e catupiry para a decoração

Prepare o recheio salgado: limpe e lave rapidamente o camarão e tempere com sal e pimenta do reino. Refogue no azeite o camarão, os temperos e os queijos. Reserve.

Prepare o recheio doce: em uma panela pequena, leve ao fogo médio a massa de cupuaçu, o açúcar e a água. Deixe ao fogo por aproximadamente 10 minutos ou até desprender do fundo. Reserve.

Prepare a tapioca: peneire a goma e tempere com sal, depois aqueça em uma frigideira de 20 cm e polvilhe a goma peneirada. Deixe por alguns segundos até soltar da frigideira. Vire a massa rapidamente para que o outro lado fique pronto. Reserve.

Faça a montagem: coloque no prato a tapioca, passe em uma metade o recheio salgado e enrole como rocambole até o meio. Na outra metade, passe o recheio doce de cupuaçu. Decore a parte salgada com catupiry e a parte doce, com chantilly.

28.6.07

Quebrando pré-conceitos

Namorido estava maluquinho por arroz doce. Fui atrás de uma receita original, não estas correntes com leite condensado. Achei no livro "Arroz sem feijão".

Ficou bem bom, realmente com gosto de antepassados - mas da próxima vez vou tentar com gema a menos. Para quebrar a doçura, aproveitei os morangos que estavam vencendo na geladeira.

Anedótico foi saber que meus convidados não gostavam de arroz doce. Não sei se por educação ou sucesso, eles limparam os copinhos... O comentário de ambos foi: "Olha, pra falar a verdade não gosto de arroz doce, mas este aqui está realmente bom!" ÊÊÊÊÊ!

Arroz doce portuga com azedinho
- 2 copos de d'água
- 1 litro de leite
- 2/3 xícara de arroz (arborio)
- 4 gemas
- 1 xícara de açúcar

Aqueça em fogo médio a água, 400 ml do leite e o arroz (sem lavar). Quando levantar fervura, reduza o fogo para o mínimo e mexa de vez em quando, para soltar o amido do arroz e não deixar pegar no fundo, até todo o líquido ser absorvido e o arroz cozinhar - se preciso, acrescente mais água fervente.

Ferva os 600 ml de leite restantes. Enquanto isso, misture muito bem as gemas e o açúcar, com a ajuda de um fouet. Acrescente o leite fervido aos poucos, enquanto mexe vigorosamente esta pasta para as gemas não coagularem.

Transfira o arroz para uma panela limpa e alta, adicione o creme de gemas e misture. Cozinhe em fogo baixo, com a panela tampada, porém mexendo freqüentemente até engrossar. Retire do fogo e deixe descansar por 15 minutos.

Calda
- 1 caixinha de morangos
- 2 a 3 colheres de sopa de açúcar
- 1 limão
- Cravos a gosto

Lave os morangos, corte-os em pedaços (guarde alguns para ornar o doce pronto) e coloque em uma panela com o açúcar, o sumo do limão e os cravos. Deixe cozinhar em fogo baixo, mexendo de vez em quando até virar um doce quase puxa. Prove e, se preferir, acrescente mais açúcar - mas lembre-se que ele vai acompanhar um prato verdadeiramente doce. Pesque os cravos.

Para servir, coloque o arroz em potinhos individuais, jogue a calda por cima e coloque o morango decorativo. Pode servir em temperatura ambiente ou geladinho, como fiz.

26.6.07

No tabuleiro da baiana tem...

"Vatapá, oi
Caruru
Mungunzá
Tem umbu
Pra ioiô..."

Lembrei desta letra enquanto jiboiava uma delícia de mungunzá, ou canjica, que deu supercerto apesar de alguns problemas na hora da feitura (a saber: panela de pressão não funcionou e o doce foi feito parte de manhã, parte à noite).

Achei a música bem adequada ao momento, pois já começo a sonhar com tudo que quero provar nos nove dias que passarei em Salvador, em julho. Além disso, a receita foi passada por uma filha de baiano, minha mãe.

(Só é uma pena que, com a letra, veio a voz da Gal, que 'garrou na minha mente desde então. Saco.)



Canjica
- 1 1/2 xícara de canjica
- 1 garrafa pequena de leite de coco
- 1 colher de sopa cheia de coco ralado
- 1 lata de leite condensado (ou leite integral e açúcar a gosto)
- Cravo e canela em pau a gosto
- Opcional: 2 colheres de sopa de amendoim (sem ser salgado, plis!)
(Na hora, acrescentei ainda 1/2 xícara de leite e 1 colher de sopa de açúcar, mas imagino que por obstáculos no preparo.)

Coloque a canjica de molho em água, com os cravos, de um dia para outro. Leve ao fogo nesta mesma água até o grão amolecer, com as canelas: na panela de pressão, é rapidinho.

Quando a canjica estiver macia, leve o dengo pra cozinhar em banho-maria: acrescente o leite de coco e o coco ralado e mexa. Depois coloque o leite condensado e os amendoins e continue mexendo, até o caldo ficar grosso e saboroso. Se preferir, pesque os cravos e as canelas antes de servir. Coma quente ou frio, com a bênção do orixá.

Ah, as palmeiras

Sempre que sobra massa folhada lá em casa, faço palmiers. Adoooro, ainda mais acompanhando o santo café.

Na última vez, contudo, o par foi o chá rooibos, um matinho sul-africano sem cafeína (sim, amigos, eu às vezes tomo coisas sem cafeína, tá?) com uma cor linda, meio vermelho, meio marrom. A versão servida tinha ainda outras misturinhas, menta provavelmente, que a amiga Alejandra deixou comigo: bom demais da conta.

Palmiers
- Massa folhada
- Açúcar e canela

Abra a massa num retângulo, polvilhe o açúcar com a canela e enrole as duas pontas na direção do centro. Quando se encontrarem, passe um pouquinho de água no meio para os dois lados colarem. Corte a massa com cerca de 1 cm, coloque em uma assadeira (antiaderente ou untada) e polvilhe mais um pouquinho de açúcar e canela em cima. Asse em forno médio até inflarem e dourarem, e não se esqueça de as virar no meio do caminho.

Agüentam bem por uma semana em uma lata bem fechadinha. Mais do que isso, não tenho idéia. Sua vida é demasiadamente curta perto de mim...

25.6.07

Muleta culinária

Adoro tortas salgadas. São fáceis de fazer (nem sempre rápidas) e podem ser preparadas com antecedência. Geralmente têm boa aceitação entre crianças e adultos e não costumam brigar com o prato principal (ao lado, com peixe).

Prefiro aquelas que podem ser servidas quentes ou frias, como esta, que tirei do livrinho filantropo rotariano "Cozinhando com amor e sabedoria", comprado em Joinville anos atrás:

Torta de batatas e três queijos
- 2 2/3 xícaras (uns 600 gramas) de batatas cozidas e reduzidas a purê
- 2 colheres de sopa de farinha de trigo
- 1 cebola média picada
- 2 ovos batidos
- 1/2 xícara de cottage (dá para trocar por creme de leite)
- 1 xícara de queijo suíço ralado (ou outro queijo amarelo mole)
- 4 colheres de sopa de parmesão ralado
- 4 colheres de sopa de cebolinha picada
- 2 colheres de sopa de manjericão
- 1/2 xícara de leite
- 1/2 xícara de tomate seco (ou tomate normal) picado
- Sal e pimenta a gosto

Unte uma forma redonda e farinhe. Pré-aqueça o forno. Misture todos os ingredientes acima muito bem, coloque na forma e polvilhe mais parmesão em cima. Asse por cerca de 40 minutos, ou até ficar douradinho.

21.6.07

De volta para o futuro

Essa belezinha aí lembra da validade das comidas que você tem em casa e busca na blogosfera receitas de acordo com o estoque e sua preferência.

Meu sonho é que toda cozinha seja equipada com infravermelho: o computador checará o que falta nos armários e geladeira, comparando com a lista de compras básica, e mandará o pedido para o supermercado virtual, que debitará do cartão e entregará num dia pré-determinado, quando a diarista está em casa para receber e guardar tudo. Quando quiser preparar uma receita especial, apenas incluo na lista esses pedidos ocasionais, em uma tela pendurada na parede como o Yummy aí do lado.

E assim nunca mais terei de colocar os pés num hipermercado novamente, com o saco na lua e a lista escrita em letra ruim num papelzinho dobrado.

20.6.07

A boa da estação

Não gosto muito de pinhão cozido purinho. Acho sem graça e lembra demais uma barata cascuda para inspirar apetite. Mas descobri que ele é fantástico como base para pratos. Pensando nisso, fiz um molho beeeem básico para acompanhar o peixe, que deu um toque sulista único ao jantar paulistano.

Molho de pinhão
- Duas mãozonas de pinhão
- Uma colher de sopa de sal
- Duas colheres de sopa de azeite
- Duas colheres de sopa de manteiga
- 1/4 de cebola bem picadinha
- 1 dente de alho bem picadinho

Coloque o pinhão para cozinhar em uma panela de pressão, com o sal e água cobrindo. Demora uns 40 minutos. Descasque (ai...) e corte em lascas ou rodelinhas. Esquente o azeite e a manteiga numa panelinha, coloque a cebola e o alho e espere começar a dourar. Jogue o pinhão e deixe apurar um pouco ali, uns 7 ou 8 minutos. Se precisar, acerte o sal. Sirva quente sobre seu peixe assado preferido.

Em tempo: gosta de pinhão? Então entre na luta pela preservação da araucária, árvore belíssima da mata atlântica que está em vias de extinção pela ação de uns "desenvolvimentistas" lá do sul. Não gosta de pinhão? Entre na campanha também. Biodiversidade se constrói assim e é realmente desnecessário acabar com uma espécie para que os negócios cresçam.

19.6.07

Eparrê aroeira

Essa bolei passeando pelas gôndolas do supermercado, para entreter os convidados do jantar enquanto o restante era aprontado. Logo eu, que odeio supermercado...

Dip dill rosa
- Um pote de cream cheese, em temperatura ambiente
- 2 colheres de sopa de creme de leite, sem soro
- Pimenta rosa
- Dill fresco
- Massa folhada

Como já escrevi aqui, prefiro a praticidade da massa folhada: abra em uma superfície lisa e ligeiramente enfarinhada, corte em quadrados de 15 cm X 15 cm e leve para assar em uma forma untada ou antiaderente, em forno médio pré-aquecido, até crescer e dourar. Cuidado que é rápido, viu?

Enquanto os quadradinhos estão pegando uma cor, faça o dip: com a ajuda de um garfo, misture o cream cheese com o creme de leite até incorporar bem. Acrescente a pimenta rosa moída e várias folhinhas de dill a seu gosto. Prove e, se precisar, acerte o sal.

Sirva separado (como foi meu caso) ou monte os quadradinhos (como gostaria de ter feito), com um pouco de dip em cada folhadinho, coroado com uma pimenta rosa intacta.

18.6.07

Bem-aventurados

- Então, Lu, quer jantar aqui em casa? Resolvi cozinhar de verdade.
- Como assim? As outras vezes eram mentira?
Preparei um jantar bem gostoso no domingão, como há tempos não fazia, para receber amigos e embalar o papo. O cardápio foi:
Entrada: folhado com dip dill rosa
A janta propriamente dita: salmão com ervas e molho de pinhão + torta de batata, queijo e tomate (a salada foi dispensada)
Sobremesa: arroz doce portuga com azedinho doce
(Aos poucos coloco as receitas aqui.)
Depois, chá rooibos com palmiers.

Foi todo mundo embora feliiiiiizzzzzz... E hoje recebi senhor elogio:
Lu Coelho e os 11 dias diz:
vc me empazinou ontem! eu comi demais!

Cris diz:
empazinou... vou ter de ver no dicionário
Lu Coelho e os 11 dias diz:
hahaha
posso estar viajando na definição... minha mãe que sempre usa essa palavra
Cris diz:
é, no mini tem não
Lu Coelho e os 11 dias diz:
ah, tá certo
Lu Coelho e os 11 dias diz:
empanturrar
Lu Coelho e os 11 dias diz:
abarrotar


:) Coisa boa alimentar quem a gente ama. Né não?

Tamanho não é documento

Sempre faço essa receita, que peguei no Panelinha e descobri, mais tarde, que se trata da mesma receita que já tinha de bolo de laranja - só trocando, obviamente, o ator principal. Mas dessa vez queria fazer minibolos, porções individuais, três mordidas e finito. Sucesso absoluto!

Bolo de cenoura

Massa:
- 3 cenouras pequenas
- 4 ovos
- 1 xícara de óleo de canola
- 400 gramas de açúcar
- 300 gramas de farinha de trigo
- 1 colher de sopa de fermento em pó
Calda:
- 2 colheres de sopa de margarina culinária
- 1 xícara de chocolate em pó, sem açúcar
- 1 xícara de açúcar
- 1/2 xícara de leite

Acenda o forno em temperatura média e prepare as forminhas (ou unte e farinhe uma forma redonda, com buraco). Descasque as cenouras, corte em pedaços e jogue no liqüidificador, cruas mesmo. Junte o óleo e os ovos e bata até ficar uniforme.

Em uma tigela, junte os ingredientes secos, de preferência passados numa peneira, e misture. Jogue o creme de cenoura e mexa bem, com a ajuda de uma boa colher de pau. Preencha 2/3 de cada forminha, ou coloque na forma grande, e leve ao forno. Para checar se está cozido, espete um palito - se saiu limpo, está ok.

Enquanto o bolo está no forno, faça a calda de chocolate: coloque todos os ingredientes numa panela e mexa, em fogo médio, até começar a ferver. Abaixe o fogo e continue mexendo, até dar o ponto - quase como um brigadeiro, mas um pouco mais elástica. Passe nos bolinhos ou jogue no bolão enquanto tudo estiver ainda quente.

14.6.07

Pula a fogueira, Iaiá

No domingo, fui a uma quermesse perto de casa. Apesar de não ser católica, sempre achei simpática a idéia de comprar fichas e gastar naquele conjunto de barraquinhas, tocadas por voluntários, para ajudar a igreja a se manter. É uma boa ação, afinal, regada por comidinhas juninas que tanto adoro. Win-win.

Mas dessa vez fiquei bem decepcionada. Só havia duas barracas de jogos, então as crianças ficaram meio órfãs de divertimento. Na banca de doces, o olho cresceu no curau. Grande decepção: o milho passou longe e a maisena, perto demais. Trocamos o segundo potinho por qualquer outra coisa, indigna de nota. Paçoca e pé-de-moleque, só industrializados. Pelo menos o quentão era decente.

Fomos embora em pouco tempo, quando a moçadinha começou a chegar com seus cigarros e perfumes fortes - virou baladinha, veja só - e após ouvir o "mestre-de-cerimônias" fazer piadas duvidosas sobre a Parada Gay, ao som de um forró bem safado, pouco antes de a banda sertaneja tomar o palco, enquanto um grupo de voluntários gritava louvores no melhor estilo carismático.

Tudo tem limite, até o altruísmo.

Quentão
- 1 garrafa de cachaça
- 600 ml de água (ou menos...)
- 1/2 quilo de açúcar
- Casca de duas laranjas
- Casca de um limão
- 50 gramas de gengibre em pedacinhos
- Cravo da índia a gosto
- Canela em pau a gosto
- 1 maçã cortada em pedacinhos

Em uma panela grande, coloque o açúcar, as cascas, o gengibre, o cravo e a canela. Quando o açúcar estiver derretendo, jogue a cachaça e a água e deixe cozinhar por 25 minutos em fogo médio. Filtre e coloque a maçã. Mantenha aquecido, em fogo baixo, após o preparo.

12.6.07

Menu conquista

Que tal este cardápio?

Entrada: sopa de butternut squash e maçã com blue cheese
Prato principal: quiche de siri com salada (mixed greens, endívia, pêra, nozes, vinagrette de raspberry)
Sobremesa: pêssego e blackberry com calda de vinho e manjericão

Gostou? Veio da mente maligna de um homem que sabe muito bem o valor de um bom jantar cheio de cuidados para conquistar sua preferida. Ele mandou para este blog os detalhes do prato principal, caminho direto pro coração, via estômago, da amada. "Receita de uma revista que eu peguei na casa de mainha. Fica uma delícia mesmo, as nêga pira."

Inspire-se e corra para o supermercado, que ainda dá tempo. Um ótimo Dia dos Namorados para vocês. E seu Siriguejo que se cuide!

Quiche de siri
Massa:
- 350 gramas de farinha de trigo
- 150 gramas de manteiga
- 3 gemas
- 60 gramas de açúcar
- Sal
Recheio:
- 1 cebola picada
- 1 pimentão picado
- 1 colher de sopa de azeite de dendê
- 400 gramas de carne de siri
- 250 ml de leite de coco
- 250 gramas de queijo tipo minas frescal
- 5 ovos
- Azeite de oliva
- Sal e pimenta

Massa: coloque a farinha numa superfície lisa e faça um furo no meio. Junte a manteiga e mexa com os dedos, misturando até ficar uma massa esfarelada (PS: atenção que o autor dá uma ótima dica nos comentários!). Adicione as gemas, o açúcar e o sal e misture até a massa ficar homogênea. Faça uma bola, enrole em um filme plástico e deixe na geladeira por uma hora.

Recheio: leve ao fogo uma panela com azeite de oliva e refogue a cebola e o pimentão. Acrescente o azeite de dendê, a carne de siri e refogue bem. Junte o leite de coco e tempere com sal e pimenta. Deixe engrossar um pouco, junte o queijo minas, mexa um pouco, retire do fogo e deixe esfriar. A parte, numa tigela, bata bem os ovos e misture ao recheio frio.

Abra a massa com um cilindro (rolo de fazer pizza serve), forre uma forma do tamanho que você quiser (a receita sugere fazer vários pequenos, eu faço um só grande) e distribua o recheio. Leve ao forno preaquecido a 160 graus (forno médio) por 30 a 40 minutos.

5.6.07

De beiçada

Meu irmão, que tem uma mão ótima para cozinha, usa uma expressão que adoro: "de beiçada". É um equivalente para "no olho", mas que detalha uma fisionomia muito usada por cozinheiros de fim de semana: sabe quando você abre a panela e fica pensando se coloca mais pimenta, ou se deixa cozinhar mais, e os lábios vão se fechando automaticamente, vão se espremeeeendo, até virar um beiço? Poisé.

Tem gente, como eu, que ainda joga o beiço para um dos lados; tem gente que faz até um bico; outros ainda emitem um barulho pensativo: "Hmmmmm..." Pode reparar.

Dia desses, Paranthropus foi para Salvador num bate-e-volta, a trabalho. Ficou na casa da voinha dele (que mora, aiai, na frente da Baía de Todos os Santos) e trouxe, na bagagem, um pudim de tapioca. Não muito doce, fez nossa alegria por três dias.

Claro que implorei pela receita. Só que ele não anotou e diz que seria bobagem perguntar para a voinha. Ela realmente não saberia dizer quanto usa de cada ingrediente. Falta de memória?, você pensaria, devido à idade avançada. Nãão, longe disso. É que ela faz de beiçada mesmo. (Só não descobri ainda que tipo de beiço é.)

4.6.07

Miranda versus Charlotte

Trabalhei no fim de semana. De novo. Tinha planejado várias comidas boas para os dias gelados de outono, testando receitas antigas e novas com pinhão, para namorar bem muito e sobrar tempo para arrumar o armário e pendurar cortinas. Até comprei bateria para a câmera, para tirar várias fotos e mostrar os pratinhos aqui! Bom, tudo isso foi adiado - quase tudo, já que pelo menos consegui curtir o hominídeo um tico...

Enquanto me afundava no computador, a cozinha ficou nas mãos dele. Ele, como todo macho que se preze, começou com uma receita para dessensibilizados: curry verde. Não demorou muito e deixou aflorar seu lado fofs. Adaptou a receita de muffins do Bonalume, usou uma parte de açúcar mascavo para compensar a falta de açúcar branco e colocou pedacinhos de chocolate amargo. Ficaram bem moreninhos e gostosos!

Fiquei morrendo de tristeza por não compartilhar as panelas com ele. Minha única tentativa nestes dias, mousse de Nutella, deu errada: ficou mole e, depois de uma hora e trinta minutos de carro até a Cantareira, virou creminho. Ainda bem que Nutella é boa de qualquer jeito, e o almoço preparado pela chef Paula estava sensacional!

No feriado, não trabalho. Em princípio. Só espero não me frustrar novamente...

1.6.07

Lição de fonética

Em Joinville, toda panificadora que se preze tem schneck (ou shineck? ou chineq?) todo dia, o dia inteiro, meio como acontece com o pão francês em São Paulo.

Ouvi falar que existe um tal schneck francês, massa folhada com chocolate. Não é esse. Refiro-me a um bichinho que poderia ser um pão, mas não é; a massa lembra da cuca, mas não é - ainda que a farofinha em cima seja a mesma; deveria ser salgado, mas não é; também não é doce. É gordo, fofo e aceita tanto uma manteiguinha como uma geléia - pessoalmente, prefiro com melado.

É unanimidade como parte do lanche alemon - quando sai do forno, hmmmmm... Só o nome não goza da mesma facilidade. É schnek? xinék? chineck?