21.9.07

O samba do pirarucu verde

O pirarucu é um bichão das várzeas amazônicas, conhecido como "bacalhau de rio": salgado e seco, lembra um pouco mesmo seu primo, e é preparado de forma bastante parecida. Entrou na minha lista dos melhores peixes do mundo logo após a primeira garfada do pirarucu especial do Piracatu, em Santarém, acompanhado de uma Cerpinha (ou "Cerpínia", com sotaque).

Pois estava eu no Pão de Açúcar no sábado à noite, atrás de um salmão para um jantar rápido, quando duas postas de pirarucu começaram a me chamar de um cantinho do congelador. Imediatamente o sabor que conhecia veio à minha mente e peguei o peixe.

A empolgação nublou a racionalidade. Não lembrei que 1) o peixe estava congelado, então preparar o jantar não seria rápido; 2) nunca havia preparado pirarucu na minha vida e não sou uma expert no preparo de peixes; e 3) o namorido não é grande fã de peixes (apesar de gostar do monstrão amazônico). Já em casa, ele foi colocando as questões acima com delicadeza. E mais uma: o peixe estava meio verde!

Antes que eu me desesperasse, ele saiu para comprar Cerpínias para a gente enquanto eu descongelava o bendito no microondas. A casa ficou fedendo a maresia - apesar da origem fluvial do bicho, veja bem. O peixe recuperou uma cor saudável, mas aí foi o namorido que ficou verde, por causa do cheiro forte desprendido. Fui em frente - o máximo que podia acontecer seria pedirmos uma pizza. Depois de eu sambar muito, por duas horas e meia, ele gostou e comeu tudo. A minha posta ainda ficou com um pouco de gosto de maresia, mas ok.

Segue o que fiz. Se alguém souber como lidar adequadamente com o pirarucu, por favor, ajude. Da próxima vez, estou a fim de mergulhar as postas no leite de coco - ou voltar para Santarém...

Pirarucu com "castânias"
Peixe
- Duas postas de pirarucu
- Sal e pimenta a gosto
- Vinho branco
- Suco de 1 limão
- Uma pitada de cardamomo em pó
- 1 cebola
- Azeite
As postas ficaram marinadas nesta mistura, para tentar reduzir a maresia. Enquanto isso, acendi o forno para preaquecê-lo, cortei a cebola em fatias e as coloquei em um refratário. Reguei com azeite.

Esquentei uma frigideira antiaderente e coloquei um pouco de azeite. Coloquei uma posta de cada vez, uns 4 minutos de cada lado. Depois foram para esta cama de cebolas. Borrifei mais um pouquinho de vinho, joguei mais um pouco de azeite, cobri com papel-alumínio e levei ao forno por uns 20 minutos, enquanto preparava as "castânias".

Farofa de "castânias"
- 1/4 de cebola picadinha
- 1 colher de sopa de pasta de castanhas-do-Pará
- 1 colher de sopa de manteiga
- Um montão de azeite
- Sal e pimenta-do-reino
- Uma pitada de cominho
- Salsinha picada

Numa frigideira, derreti a manteiga com o azeite e acrescentei as cebolas, até reduzirem. Coloquei os demais ingredientes. A pasta de castanhas, danada, absorveu toda a gordura, então o que deveria ser molho virou uma farofinha úmida, que cobriu o peixe. Para acompanhar, arroz basmati e creme de cenoura.

4 comentários:

Laurinha disse...

Uau! e não tinhas a manha de fazer o dito! Deve ter ficado muito bom - se bem que não sou muito de peixe de rio, prefiro os de mar, mas talvez pq tb nunca o tenha experimentado... Parabéns"
Beijinhos,

A simplicista... disse...

Olha, Laurinha, esse peixe é de rio mas tem jeito de vir do mar. Se puder, prove sim!

Anônimo disse...

PS: apesar do que diz a fishbase, o bicho não está ameaçado, e todo o (pouco) pirarucu que chega (legalmente) a são paulo é pescado de forma sustentável. agora, que 5 pila a posta é muito dinheiro, isso é. queria saber se a caboclada do ituqui vê a cor dessa grana.

A simplicista... disse...

Claro que não, né?
Sem contar que 2/3 dessa grana deve morrer no transporte.