2.1.08

Favas contadas

Faço aniversário no iniciozinho de janeiro, então ano novo tem duplo sentido para mim: todos aqueles balanços sobre o que passou e o que virá vêm sempre em dobro.

Contudo, não contava com um inferno astral ao quadrado, que resolveu se manifestar em todo seu esplendor no dia 31 de dezembro, durante a feitura da ceia - afinal, como bem lembrou o namorido, o mês foi tão cheio de responsabilidades e compromissos que nem tive tempo antes para deixar qualquer coisa sair do prumo.

Começou com a indefinição sobre a sobremesa, em que as favas de baunilha compradas a preço de banana deveriam ser usadas. Queria ovos nevados, namorido não gosta. Ele queria um pudim de baunilha francês, eu achei bobo. Depois de dias de debate, resolvemos apostar no semi-freddo com torrones do Jamie Oliver.

No dia anterior, compramos o torrone errado (deveria ser crocante, não molengo) e o creme de leite da marca que odiamos, pois só havia ele. Tampouco achamos o pistache sem sal recomendado. Em cima da hora, resolvemos pular para a próxima receita e fazer o semi-freddo com figos e mel. Corre namorido atrás de figos frescos e secos, toca eu separar os ingredientes.

Batemos tudo certinho e, na hora de misturar, o creme começou a talhar e azedar! Teoria do namorido é que figos são ácidos, mas, poxa, carambolas! (Pelo menos, a foto ficou bonita.) Jogamos tudo fora.

Depois de muito mal humor (meu) e desespero (de ambos), ele disse para tocar os ovos nevados, paciência. No que coloco o leite para ferver, ele talha também - azedo! A vontade de chorar foi forte.

Respirei fundo, corri para a padaria e comprei mais leite, ovos e açúcar. Coloquei uma música bem calma, limpei a bagunça anterior e me concentrei. Três favas de baunilha e quatro horas depois, a uruca e o inferno astral se afastaram. O resultado foi satisfatório: o creme ficou muito doce para o meu gosto, mas acabou providencial para afastar a ressaquinha de champagne...

Ovos nevados
- 4 ovos
- 1 fava de baunilha
- 2 1/2 xícaras de leite integral
- Uma pitada de cardamomo em pó (se tiver grãos, use 2 a 4)
- 1/2 xícara + 1 colher de sopa de açúcar (foi demais para meu gosto: melhor 1/3 ou 1/4 de xícara)
- 1 pitada de sal
- Nozes quebradas

Abra a fava com uma faca afiada, no sentido longitudinal, e raspe com cuidado as sementinhas. Coloque-as (sementes + fava) numa panela com o leite e o cardamomo. Ferva, desligue e tampe bem, com um pano por cima, por 30 minutos. Tire a fava (e as sementes de cardamomo, se as utilizou) e ligue novamente o fogo baixo, em ponto de quase fervura constante.

Bata as claras em neve com o sal. Quando estiverem quase no ponto de claras duras, acrescente a colher de açúcar e bata por mais um ou dois minutinhos. Jogue grandes colheradas das claras no leite, uma a uma. Deixe cozinhar 1 a 2 minutinhos de cada lado, retire com uma escumadeira e reserve sobre papel-toalha. Desligue o fogo e deixe o leite amornar.

Faça o creme: bata as gemas com o restante do açúcar até esbranquiçar. Acrescente devagarinho o leite morno, sem parar de bater. Leve essa mistura ao fogo novamente, em fogo médio, e mexa constantemente com uma colher de pau. Quando começar a ensaiar engrossar, abaixe o fogo e mexa vigorosamente até ele engrossar mesmo, quando o fundo da panela começa a aparecer. Desligue o fogo, mexa por mais uns minutos (para o creme não pegar no fundo) e deixe esfriar.

Coloque o creme no recipiente em que vai servir a sobremesa. Disponha as claras por cima, polvilhe as nozes, cubra com filme-plástico e deixe na geladeira por pelo menos 30 minutos antes de servir.

5 comentários:

Anônimo disse...

Eu acho que a culpa toda foi do creme de leite PAULISTA (não comprem JAMAIS), que estava azedo. Essa bola já estava cantada. Acho também que a gente deveria ter feito o semi-freddo primeiro e depois jogado os figos. Mas em retrospectiva tudo é mais fácil, né?
Os ovos nevados ficaram ótimos. Só de pensar no "croc-croc" das sementinhas de baunilha eu fico fissurado. Agora essa mesma sensação custará 30 reais. Que deprê.

Marcia disse...

Acabo de entrar sem bater, pela cozinha da Lailinha. Gostei tanto que vou pedir permissão para voltar. No Natal, fiz risoto de funghi e para acompanhar... bem acho que vou com esta estória meio comprida demais lá para o meu blog. Faça uma visita. Um belo ano para você e namorido.

A simplicista... disse...

É isso aí, namorido, dedo na ferida. Creme de leite Paulista, nunca mais.

Marcia, volte sempre! Vi seu post e simpatizo da sua dor. Mas o bom é que sempre fica uma história para a posteridade...

Anônimo disse...

Lá em casa desandou tudo também, mas foi no Natal. A tia foi fazer uma tal de creme chinês que ficou mole, minha mãe errou o tropical. No Reveillon, a irmã desligou a geladeira com o meu pavê dentro e ele quase que fica só "pra ver" mesmo. Por obra dos deuses da cozinha, no entanto, ele virou, gostosinho, gostosinho. ;)

A simplicista... disse...

Eita, Gi! Será que é expurgo de fim de ano?
:)