28.5.07

Corrida contra o tempo

Não sou superfã de congelados e comidas prontas, mas tampouco renego tudo o que a vida moderna traz de bom. Algumas coisas são uma mão na roda, especialmente para quem trabalha fora, mora numa cidade complicada, como São Paulo, cuida de casa e dos entes queridos (família, amigos, bichos e plantas), adora ler e ainda quer ficar bonita no fim do dia.

Um desses facilitadores, na minha opinião, é a massa folhada congelada. OK, não é nem de longe tão leve e saborosa quanto a feita em casa - concordo com o dito em gênero, número e grau. Mas ela já salvou minha pele em almoços e jantares como prato principal, complementar e sobremesa. Isso porque agüenta um bom tempo no freezer, descongela rapidamente e é versátil no emprego de doces e salgados.

Corte algumas maçãs, acrescente suco de meio limão, açúcar mascavo, canela, passas e nozes (e um tico de farinha de rosca, se a mistura estiver muito líquida), coloque numa massa aberta, enrole e coloque no forno, com gema passada em cima e no meio para grudar as partes abertas: você tem um apfelstrudel, para comer quente ou frio, sozinho ou com nata batida, sorvete, chantilly, em menos de uma hora.

Troque o recheio e você tem um strudel salgado: eu adoro misturar espinafre ou escarola com ricota ou quínua pré-fervida, temperar com sal, pimenta branca e noz moscada e servir com um peixe, no inverno, ou com salada, no verão.

Ela também pode ser enrolada como um rocambole, doce ou salgado. Para acompanhar chá ou café, basta cortar em diferentes formatos com açúcar e canela (palmiers são feitos assim) ou gergelim e queijo parmesão. Para aperitivos, faça quadradinhos ou triângulos, asse e coloque em cima o que quiser, de pastas a fatias de salmão defumado e pimenta rosa.

Pode ser base para um monte de outras invencionices da sua cabeça. E, quando as pessoas elogiarem, você poderá agradecer embevecida, descansada e belíssima.

PS: O título e a temática deste post me lembraram um livrinho ótimo, indicação do Paranthropus, que soube pelo Rafa: "Einstein's Dreams", de Alan Lightman, professor do MIT. São 30 estorietas, cada uma com sonhos ficcionais de um jovem Einstein durante a gestação de suas teorias relativísticas.

Segue um trechinho:
"A man or a woman suddenly thrust into this world would have to dodge houses and buildings. For all is in motion. Houses and apartments, mounted on wheels, go careening through Bahnhofplatz and race through the narrows of Marktgasse, their occupants shouting from second-floor windows. The Post Bureau doesn't remain on Postgasse, but flies through the city on rails, like a train. Nor does the Bundeshaus sit quietly on Bundesgasse. Everywhere the air whines and roars with the sound of motors and locomotion. When a person comes out of his front door at sunrise, he hits the ground running, catches up with his office building, hurries up and down flights of stairs, works at a desk propelled in circles, gallops home at the end of the day. No one sits under a tree with a book, no one gazes at the ripples on a pond, no one lies in thick grass in the country. No one is still.
Why such a fixation on speed? Because in this world time passes more slowly for people in motion. Thus everyone travels at high velocity, to gain time."

"Um homem ou uma mulher subitamente colocados neste mundo teriam de se desviar de casas e prédios. Pois tudo está em movimento. Casas e apartamentos, montados sobre rodas, transitam adernando pela Banhofplatz, disparam pela estreita Marktgasse, seus ocupantes aos berros nas janelas do segundo andar. A agência postal não fica na Postgasse, mas voa pela cidade sobre trilhos, como um trem. Tampouco a Bundeshaus permanece tranqüila na Bundesgasse. Em todo lugar, o som dos motores e da locomoção fazem o ar gemer e rugir. Quando uma pessoa sai de sua casa logo cedo, ela pisa na calçada correndo, alcança o prédio onde está seu escritório, sobe e desce correndo lances de escada, trabalha em uma mesa que gira em círculos, galopa de volta para casa no fim do dia. Ninguém se senta sob uma árvore com um livro, ninguém fica olhando para as ondulações em um lago, ninguém se deita na grama no campo. Ninguém está parado.
Por que essa fixação com a velocidade? Porque neste mundo o tempo passa mais lentamente para as pessoas em movimento. Assim, todos se movem em alta velocidade, para ganhar tempo."

No Brasil, a Cia. das Letras publicou. Procure e sonhe você também...

2 comentários:

laila radice disse...

muito´prático...concordo com as vantagens da massa feita em casa mas pela facilidade e quebra galho vale a pena! bjos

A simplicista... disse...

aaahhh, poisé. adoraria ter tempo para fazer a massa em casa. quem sabe um dia?
beijo