25.8.08

Com açúcar e afeto

Essa é uma sobremesa para quem gosta de doce bem doce. Não é meu caso, mas abro uma exceção para essa receita. Me lembra infância e, em tempos de gravidez, nostalgia é meu segundo nome.

Pavê tridoce
- 200 gramas de biscoito champagne
- 1 xícara de leite
- 2 colheres de achocolatado em pó
- Um cheiro de licor de chocolate ou café (na falta, tasquei Amarula)
*
- 4 ovos, gemas e claras separadas
- 1 lata de leite condensado
- 1 lata de leite
- Um cheiro de baunilha
*
- 4 colheres de sopa rasas de açúcar
- 1 lata de creme de leite sem soro

A primeira parte: misture o leite, o achocolatado e o licor. Molhe os biscoitos rapidamente nesta mistura e forre o fundo da vasilha onde servirá o pavê.

A segunda parte: leve ao fogo médio-baixo o leite condensado, o leite de vaca, a baunilha e as quatro gemas (sem a pele). Não pare de mexer, até engrossar. Jogue sobre os biscoitos.

A terceira parte: bata as quatro claras em neve firme. Acrescente, colher a colher, o açúcar, sem parar de bater. Incorpore o creme de leite. Cubra o creme amarelo, que já deve ter esfriado um tanto.

Deixe gelar por pelo menos duas horas antes de servir.

P.S. Desculpe pela longa ausência. Estou no quinto mês de gravidez e o começo foi bem complicado, com muitas náuseas. Fiquei sem cozinhar e sem conseguir sentir cheiro de comida. Aliás, fiquei sem comer também. Aos poucos, bem aos poucos, estou voltando. Mas não prometo muitas novidades no blog por enquanto pois meu apetite não está a mesma coisa de antes...

14.4.08

Uma delícia de formigueiro

Sabe quando você está entre uma ida e outra ao supermercado, a despensa e a geladeira quase vazias, mas teima em cozinhar?

Tinha apenas três ovos em casa, não muita farinha e saí atrás de um bolo que coubesse nessas condições. Comecei a vasculhar um fichário que minha tia-avó organizou, muitos anos atrás, com centenas de receitas da família, de revistas, de lata de leite condensado etc. Até que achei essa aqui, simples e saborosa.

Aproveitei um restinho de chocolate granulado que sobrava na geladeira e bingo! Saiu um bolinho gostoso, cheiroso e com gostinho de casa de vó!

Bolo de maisena (convertido em formigueiro)
- 2 xícaras de farinha de trigo
- 2 xícaras de açúcar
- 1 xícara de maisena
- 1 xícara de leite
- 2 xícaras de manteiga
- 2 ovos
- 1 colher de sopa rasa de fermento em pó
- 1/3 a 1/2 pacote de chocolate granulado

Bata a manteiga com o açúcar até uniformizar. Acrescente os ovos e misture muito bem. Misture os outros ingredientes secos (farinha, maisena e fermento) e acrescente aos poucos, alternando com o leite, enquanto bate.

Quando estiver pronto, apenas misture o granulado. Jogue a massa em uma forma bem untada e farinhada e asse em forno médio. Dá um bolão grandão ou dois pequenos.

Tome cuidado ao desenformar, porque ele é muito fofo e pode desmontar. Recomendo comer com café! :)

7.4.08

Ajudinha

Alguém já viu essas lâmpadas de chili para vender no Brasil?

Ficariam perfeitas na minha cozinha...
:)

Esfriou!

Temperatura cai lá fora, na cozinha as sopas retomam lugar de destaque.

Sopa de ervilha
- 500 gramas de ervilha seca
- 1 litro de caldo de frango
- 1/2 cebola picadinha
- bacon cortado em cubinhos
- 1/2 lata de creme de leite
- Sal e pimenta a gosto

Deixe a ervilha de molho por pelo menos quatro horas. Troque a água de vez em quando.

Coloque o bacon para fritar na própria gordura na panelaça onde fará a sopa. Assim que estiver pronto, retire e frite ali a cebola. Depois acrescente a ervilha escorrida, refogue um pouco e acrescente o caldo.

Depois de cozido, bata o conteúdo da panela no liquidificador. Retorne para o fogo com o creme de leite, mas não deixe ferver. Acerte o sal e a pimenta e sirva imediatamente, com os cubinhos de bacon por cima e uma torradinha de pão integral.

6.4.08

O frango, vulgo cocó

Fazer criança comer (bem) é um suplício. Para vencer esse obstáculo, procuro repetir as poucas comidas que me faziam raspar o prato quando criança - e isso, amigos, era raríssimo.

(Momento confissão:
Eu era uma peste na hora do almoço. Dava baile em todo mundo. Ficava até 15h sentada à mesa, de bunda quadrada, sem comer nada. Não adiantava reza ou ameaça. Salada, só coloquei na boca depois de grande. Meu pai, pediatra, vivia suspirando e dizendo que eu era a desgraça dele - como diria para as mamães-pacientes que deveriam fazer seus filhotes comerem se ele tinha uma filha pau-de-virar-tripa?)

Um dos pratos que eu gostava era a "eishpuminha de cocó" - o "eish" vem do sotaque carioca da minha mãe, cocó era uma forma lúdica de me fazer gostar de frango. E dá-lhe eishpuminha semana sim, a outra também... ;)

Espuminha de cocó
- 500 gramas de peito de frango
- 1/4 de cebola, picadinha
- 1 colher de sopa de azeite
- 1 xícara de água
- 1 lata de tomate pelado ou molho de tomate
- 4 ovos, claras e gemas separadas
- 3 colheres de sopa de farinha de trigo
- 1 colher de café de fermento
- Queijo parmesão (ou outro queijo) ralado
- Sal e pimenta a gosto
- Salsinha picada, se quiser

Limpe o frango e corte em pedaços grandes, no sentido da fibra. Esquente o azeite, refogue a cebola e depois inclua os pedaços de frango. Refogue um pouco e coloque a água, mais sal, para cozinhar. Tampe e mexa de vez em quando, até ficar macio.

Tire da panela, deixe esfriar um pouco e desfie todo. Volte o frango desfiado para a panela com o tomate pelado (corte bem pequenininho os tomates), a pimenta e a salsinha. Mexa e acerte o sal. Reserve.

Misture os ingredientes secos com um pouco de sal. Bata as gemas ligeiramente. Bata as claras em neve, então misture delicadamente as gemas e os ingredientes secos.

Ligue o forno para preaquecer. Unte um refratário médio com manteiga ou margarina e disponha, no fundo, o frango. Nivele. Coloque uma camada de queijo e, por cima, a mistura de ovos, delicadamente. Nivele. Asse em forno médio até dourar. Deixe esfriar um pouquinho antes de servir.

4.4.08

De cabeça pra baixo


















Um dos meus sítios favoritos de comida chama-se La Tartine Gourmande. Além das fotos e receitas sensacionais, a autora adora tartlets em geral: supermeidentifico! :)

Tinha uma sobra da massa usada na torta-quiche de cogumelos e resolvi testar uma das receitas dela, uma mistura de dois pratos tradicionais franceses, o tarte tatin e o ratatouille. Dei uma bela adaptada com os (poucos) ingredientes que tinha em casa - senti falta especialmente de ervas. Ainda assim, ficou bastante honesto e merece ser aprimorado.

A receita original você encontra aqui.

'Tartouille'
- 1/2 cebola
- 1/2 alho-poró (ou dois dentes de alho)
- 1 berinjela
- 1 abobrinha
- 1/2 pimentão amarelo
- 2 tomates italianos
- Azeite
- Um choro de azeite balsâmico
- Pitada de cominho
- Sal e pimenta a gosto
- Gruyère

Comece picando os ingredientes: a berinjela em cubos (reservada polvilhada com sal), a abobrinha em rodelas, o pimentão em cubinhos, os tomates em rodelas grossas, o alho-poró em rodelas, a cebola picadinha.

Esquente uma colher de sopa de azeite e refogue a cebola e o alho com o cominho. Acrescente a abobrinha com um pouco de sal e mexa delicadamente de vez em quando, em fogo baixo, tampando sempre que possível, até cozinhar sem amolecer. Lembre-se que ele vai continuar a cozinhar no forno.

Tire a abobrinha e reserve. Faça o mesmo com o pimentão e, depois, com a berinjela - essa leva o azeite balsâmico e, quando estiver quase, quase pronta, acrescente os tomates e dê apenas uma mexida.

Desligue o fogo, misture todos os ingredientes e confira o sal. Coloque em uma forma de torta antiaderente, ou unte com azeite. Faça uma camada de gruyère ralado grosso.

Abra a massa em um círculo e coloque em cima. Use o cabo de um talher para empurrar as bordas para dentro. Asse em forno preaquecido até a massa ficar dourada, mais ou menos 30 minutos.

Deixe esfriar por alguns minutinhos antes de virar.

3.4.08

Os fungos, volume 2

Mais uma da série "fungos invadem minha cozinha".

Torta-quiche de cogumelos

Pâte brisée (a boa e velha massa podre)
- 200 gramas de farinha de trigo peneirada
- 1 colher de chá rasa de sal
- 100 gramas de manteiga sem sal, em cubos, gelada
- 1 ovo
- Cerca de 2 colheres de chá de água
Misture a farinha e o sal. Junte a manteiga e vá misturando e derretendo com os dedos. Coloque o ovo. A água vai aos poucos, suficiente para dar liga. Enrole em filme plástico e leve à geladeira por 30 minutos. Abra na forma de quiche (ou outra baixinha) e reserve.

Essa massa rende bem. Dá para fazer um quiche e meio, pelo menos.

Recheio
- Meia bandeja de shitake
- Meia bandeja de shimeji
- Um alho-poró grandão
- 1 colher de sopa de azeite
- Nirá opcional
- Sal, noz moscada e pimenta a gosto
- 1/2 lata de creme de leite
- 1/2 xícara de leite integral
- 3 ovos

Limpe e corte a parte branca do alho-poró em rodelas. Esquente o azeite e frite, em fogo baixo, o alho-poró. Acrescente os cogumelos e o nirá, mais um tico de sal, e mexa por uns cinco minutos. Reserve.

Preaqueça o forno. Com um fouet, bata os ovos com os leites e os temperos.

Disponha os cogumelos sobre a massa e regue com a mistura de ovos e leite. Leve ao forno em temperatura média por uns 30, 35 minutos, até ficar douradinho e firme. Se o forno estiver muito quente, pode queimar a massa, tá?

Deixe esfriar cinco minutinhos antes de servir. Vai muito bem com uma saladinha verde.

1.4.08

Fungos na comida


















Passei na Liberdade no fim de semana e aproveitei para comprar cogumelos e nirá (além de outras coisinhas... rs) a um preço mais justo do que encontro no supermercado.

Ontem fiz omelete recheado. Queria ter feito crepe, mas era muito tarde da noite para isso. Fica aí a sugestão.


Omelete com cogumelos (para duas pessoas)
- 4 ovos
- 1 dente de alho
- 2 colheres de sopa de manteiga, no máximo
- Meia bandeja de shitake
- Meia bandeja de shimeji
- Um punhadinho de nirá
- Uma mãozona de gruyère ralado grosso
- Sal e pimenta a gosto
- Uma pitada de gengibre em pó

Pique o alho e corte o nirá em pedaços de uns 5 centímetros. Derreta uma colher de sopa de manteiga numa panelinha, jogue o alho e deixe-o dourar ligeiramente. Jogue o nirá e refogue, mexendo com freqüência, por alguns minutos. Acrescente os cogumelos (primeiro o shimeji, depois o shitake), coloque um pouco do sal, a pimenta e o gengibre e refogue por mais alguns minutos. Reserve.

Bata os ovos com um fouet ou garfo, com um tico de sal (cuidado para não salgar). Em uma frigideira antiaderente, derreta o restante da manteiga e jogue os ovos para fazer o omelete.

Quando estiver pronto, imediatamente jogue o gruyère e os cogumelos quentes no meio e dobre rápido, para derreter o queijo.

19.3.08

Tem pão velho, moça?

Aí uma amiga querida trouxe um montinho de ramos de alecrim perfumadíssimo para mim.

Aí lembrei de uma receita da Rita Lobo, no Panelinha, e resolvi fazer. Mas não deu certo... Ficou massudo demais, fofo de menos, com pouco sal. Terá sido falta de sova? Deveria ter deixado mais na batedeira? Foi o fermento? O tempo cinzento e friorento?

Bom, aí está a receita. Será que alguém sabe o que aconteceu?

Pão integral de alecrim
- 2 ramos de alecrim
- 1 xícara de água morna
- 2 xícaras de farinha de trigo
- 1 xícara de farinha de trigo integral
- 10 gramas de fermento seco para pão
- 3 colheres de sopa de azeite de oliva
- Óleo de canola para untar
- Sal a gosto (usei uma colher de sobremesa rasa; não foi suficiente)

Desfolhe um dos ramos de alecrim e reserve. Numa panelinha, coloque a água e o ramo inteiro de alecrim. Leve ao fogo médio e, quando ferver, desligue. Retire o alecrim.

Numa tigela grande, misture bem as farinhas e o fermento. Faça um buraco no centro, acrescente a água morna, o azeite e o sal. Trabalhe a massa do centro para fora, incorporando os ingredientes até formar uma bola.

Sob uma superfície enfarinhada, sove a massa de pão por 10 minutos até ficar lisa e elástica. Faça uma bola com a massa. Unte o fundo de uma tigela grande com azeite. Coloque a massa e pincele-a com um pouco de azeite. Cubra com um pano de prato limpo e deixe crescer por 1 hora ou até dobrar de tamanho.

Transfira a massa crescida para uma superfície enfarinhada e aplaine com os dedos. Salpique com as folhas de alecrim. Dobre a massa e sove-a até que as folhas estejam uniformemente distribuídas. Modele o pão em formato ovalado com cerca de 25 x 10 cm. Unte uma assadeira grande com óleo. Transfira a massa para a assadeira e faça cortes superficiais no sentido da largura do pão. Pincele com o azeite de oliva restante, cubra e deixe crescer por 30 minutos.

Preaqueça o forno a 180°C (temperatura média). Pincele o pão com mais azeite e leve ao forno para assar por cerca de 35 minutos ou até que esteja dourado. Para verificar se está assado, bata na parte de baixo do pão (como se estivesse batendo numa porta) e observe se produz um som oco. Caso contrário, deixe assar mais um pouquinho. Quando pronto, coloque o pão sobre uma grade e deixe esfriar.

17.3.08

Doce lembrança

Quando era criança, fui com a família passear na serra fluminense. Minha avó nasceu por ali, filha de uma franco-suíça.

Em determinado momento, paramos em uma lojinha na estrada de Muri. Ali estão os biscoitos amanteigados mais deliciosos que já provei na vida! Até hoje lembro do cheiro, do gosto e de como derretiam na boca. Nunca mais voltei, infelizmente.

Dia desses fiquei com uma vontade louca de comer biscoitos amanteigados. Os de Muri seriam impossíveis. Então lembrei de uma receita que havia visto em um blog amigo e coloquei a mão da massa. Deu trabalho, mas matou minha vontade.

A receita vem do Café da Nysa. Entre parênteses, em itálico, coloquei minhas observações.

Biscoitos da Hilda
- 300 gramas de farinha
- 150 gramas de manteiga
- 125 gramas de açúcar
- 1 ovo
- Marmelada de morango ou outra fruta; é preciso é ser vermelha (usei goiabada dissolvida em um pouco de água, em banho-maria, e perfumada com um pouco de noz moscada e cardamomo)

Misturar os ingredientes (fora a marmelada) até se obter uma massa consistente e lisa. Depois deixar 1 hora na geladeira (a minha ficou trocentas horas gelando e ainda assim funcionou).

Abra a massa (em uma superfície farinhada é melhor, porque ela fico um pouco grudenta à medida que chega perto da temperatura ambiente, digo, dos 35°C que fazia em SP no dia em que cozinhei - aliás, a cada fornada colocava a massa de volta na geladeira, para firmar um pouco).

Corte os biscoitos com as forminhas – uma metade com buraco e a outra metade sem. Eles vão ao forno preaquecido por uns 20 minutos (no máximo). Deixe esfriar sobre uma grade.

Os biscoitos sem buraco são untados com a marmelada e depois põe-se o biscoito com o buraco por cima. Deixe secar. Por fim podem ser ainda polvilhadas com açúcar de confeiteiro, pois os biscoitos não são muito doces (no meu caso, polvilhei as metades com buraco antes de montar os biscoitos. Ah, e recomendo uma geléia mais azedinha, porque achei que a goiabada + açúcar deixaram os biscoitos um pouco doces demais).

5.3.08

De sons e o silêncio

Na semana passada, a Nina Horta publicou um texto lindo, lindo em sua coluna de quinta na "Folha".

NINA HORTA
Nhoct, ploct, tchiiii, tloc-tsssss...
O espremedor de laranja só pára de zoar quando acabam as laranjas e as mexericas

PARA MIM é fácil reconstruir o mundo pelos cheiros; já pelos sons, tenho mais dificuldade. Estou com saudade de Paraty e me dei ao luxo de ficar lembrando do acordar sossegado, sem despertador, uma vassoura raspando a terra dura e a pedra do terraço. Como fundo, a cachoeira que não pára nunca, o grito agudo de uns pássaros matutinos e uma cortina impenetrável de zumbido de insetos.

Mais longe, a lenha crepitando. Mais perto, o acendedor de gás, umas tampas de panela desmontando, o leite fervendo na panela.

A casa é de madeira, e os sons atravessam as frestas como as andorinhas das cornijas. Um cachorro se coça na porta da cozinha e sai guinchando com um grito abafado de alguém. As galinhas e os galos se lixam para os que dormem e põem a boca no mundo, anunciando o dia e o ovo.

A geladeira tem um zumbido peculiar, a torneira pinga e, de repente, o telefone toca, o coração dispara, deve ser o namorado da menina. É esse barulho de telefone que começa a nos preparar para os aviões que passam baixo e os helicópteros das férias.O espremedor de laranja só pára de zoar quando acabam as laranjas e as mexericas. E então se escuta o capim sendo ceifado, uma ou outra conversa de cavalos e de burros, abelhas, grilos, cigarras.

A mesa de café está sendo posta, os passos descalços vão daqui para lá com as xícaras e os pires. Na televisão, em São Paulo, de vez em quando aparecem as vinhetas para surdos. Qualquer barulho difícil -e quase todos os barulhos são difíceis de traduzir- eles escrevem "borborinho" (sic). Complicado, para os surdos, carros que passam, pessoas que conversam, fuga do lugar do crime, seis mulheres conversando, é tudo "borborinho".

Fico pensando se o sítio também não tem sons muito destacáveis, difíceis de serem separados uns dos outros, é só um burburinho que não atrapalha ninguém. Dá para entender a água fervendo que explica o café, a máquina de moer os grãos ajudando na interpretação. Somos a audiência, os atores, os compositores nesta sinfonia doméstica doce e ritmada que não tem fim.

Os sons da natureza são harmoniosos, a chuva, quando cai num escândalo, dá medo, mas não é feia de se escutar, tem lá sua dignidade. Mas uma música a toda altura dentro de um barco no mar muito calmo e azul dá tontura. Quem sabe deveria haver uma faculdade que nos ensinasse a arquitetar os sons de uma cidade?

E ainda vai ter mão de pilão socando alho, faca afiando na pedra, feijão sendo catado, o processador virando as torradas em farinha de rosca, o bife chiando na frigideira, a casca do ovo se quebrando na tigela, o ovo sendo batido, a torneira pingando, a taioba batida com o facão e a tábua da salsa e cebolinha soando desequilibrada sobre a pia.

A banana vai fritar na manteiga para a torta, a porta do forno quebrada vai bater com força, se Deus quiser vai ter nhoct, ploct de jabuticaba, coco verde cortado para beber a água, o estalar da mordida da maçã, a melancia pesada rolando pelo chão, o som certeiro do facão eliminando a coroa do abacaxi, o tchiiii do frango grudando na panela, a massa do pão sovado, a prateada escamação do peixe, o estalo da ostra, um sugar humano de perninha de siri, outro de chupar caroço de manga, a salsicha boa que estala ao ser mordida, o tloc-tsssss da lata de Coca.

A banana não faz barulho, descasca baixinho, mas o doce se arrebenta em bolhas. É bom, assim. Tem algumas religiões que procuram o silêncio e será que conseguem?

Podíamos falar menos, evitar aquela gritaria histérica de propaganda tipo Casas Bahia, sorteio de barra de ouro, os oops de Big Brothers desassuntados, mas, não sei não, le silence éternel de ces espaces infinis m'éffraie.


**

Cada pessoa percebe o som (e o silêncio) de forma diferente: com eles, os pequenos barulhos que se fazem e faltam, tenho me reconstruído. Não escuto mais as sentenças complexas que vinham da gatinha Marieta quando eu chegava em casa, nem das súplicas que subiam de volume quando cozinhava aves, nem do prrrrrrrrrrr gostoso quando estava no colo, nem do miado leve e curto que pedia atenção enquanto eu fingia dormir, naquele momento em que o mundo é só sons e sentidos.

Em compensação, a irmã Kika, antes eclipsada, agora se arrisca mais. É voz diferente, meio rouca. À noite, sem ninguém por perto, mia mais alto procurando a irmã que não está. Aos poucos aprendo esse novo vocabulário e suas sutilezas. Ela aprende o silêncio do dia e a dialogar comigo à noite.

20.2.08

Tempo de luto

Pessoas queridas,

infelizmente, a Marieta, minha Mary, não resistiu e partiu no dia 9, por volta de 15h30, após três paradas cardiorrespiratórias. Ela tinha dez anos - quase nove deles comigo. Está fazendo muita falta na minha casa e na minha vida.

beijos e obrigada pelas mensagens de carinho

29.1.08

pausa

Vou ficar um tempo fora daqui, tá? Minha gatinha está doente e não estou a fim de cozinhar nesses dias.

beijos

21.1.08

Apimentando o cotidiano

Que tal apimentar o macarrão de todo dia? E que tal sujar o mínimo possível de louça?

Massa picante
- Farfalle ou penne
- 1 colher de sopa de azeite
- Pimentas frescas, a gosto
- 1 dente de alho
- Manjericão
- Sal a gosto
- Parmesão ralado

Coloque a água da massa no fogo - deixe para colocar o sal depois que ferver, pois ele estende o tempo. Enquanto isso, corte as pimentas em tiras bem fininhas e pique o alho bem picadinho.

Quando a água ferver, coloque a massa para cozinhar com sal e um fio de azeite. Siga as instruções e escorra quando pronto.

Na mesma panela, sem a massa, aqueça o azeite e doure bem ligeiramente o alho. Jogue as pimentas em tiras e refogue um pouquinho, mas não muito, para manter a crocrância. Acrescente a massa e as folhas rasgadas de manjericão, misture e sirva imediatamente, com parmesão ralado.

(Saldo da bagunça: uma panela, um escorredor, uma tábua, uma faca e uma colher de pau - além dos pratos, garfos e taças de vinho.)

18.1.08

Torta, porém correta

Domingão à tarde, fui atrás de uma comidinha para o jantar. Achei essa receita em diversos blogs e sites de culinária, com elogios múltiplos.

Fiz algumas mudanças por falta de todos os ingredientes. Ficou ótima e, seguindo a tradição descrita nos outros blogs, a torta não durou 24 horas frente aos olhares gulosos dos moradores...

Torta de alho-poró e cebola
Pâte brisée (a boa e velha massa podre)
- 200 gramas de farinha de trigo peneirada
- 1 colher de chá rasa de sal
- 100 gramas de manteiga sem sal, em cubos, gelada
- 1 ovo
- Cerca de 2 colheres de chá de água

Misture a farinha e o sal. Junte a manteiga e vá misturando e derretendo com os dedos. Coloque o ovo. A água vai aos poucos, suficiente para dar liga. Enrole em filme plástico e leve à geladeira por 30 minutos. Abra na forma.

(Massa original
- 1 pacote de biscoito tipo aperitivo ou salclic
- 50 gramas de manteiga em temperatura ambiente
- 1 ovo
Bata os biscoitos no liqüidificador. Coloque numa vasilha, acrescente a manteiga e o ovo e misture bem com as mãos. Forre uma forma de aro removível (24 cm de diâmetro) com esta massa, nivelando bem. Reserve.)

Recheio
- 1 colher de sopa de manteiga
- 1 cebola média ralada
- 1 ou 2 alhos-poró em rodelas (somente a parte branca)
- 1 xícara de chá de champignon fatiado (usei palmitos cortados grosseiramente)
- 1 colher de sopa de farinha de trigo
- 1/2 xícara de chá de leite
- 2 ovos
- 1 copo de requeijão cremoso
- Sal e pimenta a gosto
Aqueça a manteiga e doure a cebola. Junte o alho-poró e os cogumelos (palmitos) até refogar bem. Dissolva a farinha de trigo no leite, acrescente os ovos e misture bem.

Acrescente o líquido à mistura que está no fogo, mexendo sempre em fogo médio-baixo até virar um creme. Retire do fogo, coloque o requeijão e tempere com sal e pimenta.

Despeje sobre a massa da torta reservada. Salpiquei com parmesão ralado. Leve ao forno preaquecido em temperatura média por cerca de 25 minutos, até dourar.

17.1.08

Muffinmania

Aí me empolguei com essa história de blog de comida e fiz um curso de muffins, recomendação da Laila, no Espaço Docelar, em São Paulo.

Aí me empolguei com o curso e comprei gradinha, assadeira e forminhas.

Minha experiência foi legal, mas não conhecia bem a capacidade de crescimento da massa e coloquei pouco em cada casinha, então a cara ficou de bolinho - não cresceu e não rachou como um cogumelo. A receita dizia que renderia 10, mas mal e mal preenchi 9.

Mas são muffins, tá?
:)

Muffins (receita do Espaço Docelar)
- 1/2 xícara de açúcar
- 2 ovos
- 1/2 xícara de leite
- 1 xícara de farinha de trigo peneirada
- 1 colher de chá de casca de laranja ralada
- 1 pitada de sal
- 1 colher de sobremesa de fermento em pó
- 1/2 xícara de chá de manteiga sem sal amolecida
- 1 xícara de geléia de morango (não coloquei; usei mirtilos congelados)

Na batedeira, bata o açúcar com os ovos e o leite. Adicione a farinha, a casca de laranja , o sal, o fermento e a manteiga. Misture bem e distribua a massa pelas forminhas sem enchê-las completamente para que não transbordem ao assar, cerca de 2/3 da capacidade.

Asse no forno preaquecido, até dourar ligeiramente. Retire do forno, desenforme ainda morno e, com a ajuda de um saco de confeitar com bico perlê fino, introduza a geléia pela parte superior, no centro do muffin. Sirva frio ou morno. (Coloquei mirtilos no centro.)

16.1.08

Masih ada makanan?

Por essas coisas da vida, acabei aportando em Bali no fim do ano passado. Veja bem, a trabalho, muito trabalho.

É sério.

Não consegui explorar propriamente bem a cozinha local. Mas digo uma coisa: em duas semanas voltei três quilos mais magra. Tudo bem que andei pacas e não tinha tempo para comer direito sempre (juro). Só que os turistas não lotam a tal ilha-resort por causa de sua culinária excepcional e eu entendi por quê.

Nada de preconceito; gosto de provar o que cada país tem de melhor. Além disso, já me acostumei com a culinária apimentada asiática após um ano de intensivo com o namorido. Acontece que lá boa parte dos pratos são goreng (fritos), especialmente nasi goreng (arroz frito) e mie goreng (macarrão frito, na foto abaixo) e freqüentemente com um ceplok (ovo) em cima de tudo. E eu não gosto de fritura.

Depois de três dias disso, não dava mais para mim. Aí o que não era frito era ensopado, como o kare ou gulai (curry com leite de coco). Só que, com o calor dantesco pré-monções que fazia naquela terra (daquele tipo que os óculos embaçam ao sair da sala com ar-condicionado), eu tinha bons motivos para não exagerar.

Umas das exceções era o sate, ou satay (espeto), servido com nasi (arroz cozido) e, às vezes, um molho de amendoim importado de outro prato, o gado-gado – que, por sua vez, não tem nada a ver com bovinos, até porque os balineses seguem o hinduísmo; é apenas um prato com vegetais cozidos.


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Pois olhando o livro “Prato do Dia 2”, da Tica Magalhães, eis que encontramos uma receita que junta as duas coisas. Olha, até que ficou razoavelmente perto do original, viu? Além de bem gostoso!

Sate ayam (espeto de frango)
- 400 gramas de filé de peito de ayam (frango)
- 1 xícara de kecap asin (molho de soja)
- 2 colheres de sopa de suco de jahe (gengibre)
- 1 colher de chá de óleo de gergelim ou de amendoim

Limpe o frango e corte em cubos. Misture os demais ingredientes e deixe marinar por uma hora. Coloque os frangos nos espetos (molhados, para não pegarem fogo) e leve para grelhar na chapa ou na frigideira com um pouco de óleo. Fizemos no grill do George Forman e deu supercerto.

Saus kacang (molho de amendoim)
- 3 paçocas ou 5 colheres de sopa de pasta de amendoim + uma mãozozona de amendoim
- 1 dente de bawang putih (alho) bem socadinho e espremido
- 1 colher de sopa de suco de gengibre
- 1 ou 2 colheres de sopa de molho de soja (prove no final)
- 3 colheres de sopa de água
- Um tanto de cabe merah (pimenta vermelha) bem picadinha: dedo-de-moça, malagueta ou outra que quiser

Torre ligeiramente os amendoins no forno, tire a pele e soque até virar pó. Misture e leve ao fogo baixo com os demais ingredientes até incorporar bem.

(A autora recomenda usar apenas as paçocas ou a pasta. Ficaria, contudo, com pouco gosto de amendoim e meio doce demais. Por isso os amendoins adicionais, que acabaram sendo metade da quantidade usada, foram essenciais para se chegar o mais perto possível do original.)

Selamat makan!
Bom apetite!

15.1.08

De cópias e acertos

Sábado é o dia oficial do café da manhã decente. A tendência se intensifica com o livro "Breakfast" (Williams-Sonoma), que ganhei do meu irmão.

As fotos são nada menos do que bárbaras. São, digamos, uma motivação ao mesmo tempo que um fator desanimador, já que nas minhas mãos o resultado fica a anos-luz de distância. Mas tudo bem: ficou gostoso mesmo assim.

Panqueca alemã de maçãs
- 5 ovos grandes
- 2 colheres de chá de essência de baunilha
- 1/2 xícara + 1 colher de sopa de açúcar granulado
- 1/3 xícara de farinha de trigo
- 1 colher de chá de fermento em pó
- 1/8 de colher de chá de sal
- 1 1/2 colheres de sopa de manteiga sem sal
- 2 maçãs grandes, de preferência do tipo verde, descascadas, sem sementes e cortadas em meia lua
- 1 colher de chá de canela em pó
- 1 colher de sopa de açúcar de confeiteiro (opcional)
- ¾ xícara de frutas frescas (opcional)
- ¼ de xícara de crème fraîche (opcional)

Bata os ovos, a baunilha e a ½ xícara de açúcar até combiná-los, por cerca de 5 segundos. Acrescente a farinha, o fermento e o sal e misture bem, por mais uns 10 segundos.

Preaqueça o forno a 190°C. Coloque uma frigideira antiaderente de 25 cm de diâmetro no fogo médio, derreta a manteiga e espalhe-a. Coloque as maçãs e salteie, mexendo de vez em quando até amaciá-las, cerca de 4 a 5 minutos. Jogue a canela sobre elas e a colher de açúcar granulado reservada. Incorpore-as e salteie as frutas até as bordas ficarem ligeiramente translúcidas, cerca de 2 minutos mais.

Espalhe as maçãs por toda a frigideira e jogue a mistura por cima, de modo que as maçãs não saiam mais do lugar. Reduza o fogo para médio-baixo e cozinhe até a base ficar firme, por cerca de 8 minutos. Leve a frigideira ao forno e asse até o topo ficar firme, por uns 10 minutos.

Retire do forno e transfira para o prato onde será servido. Corte em quatro e, se quiser, polvilhe açúcar de confeiteiro sobre a panqueca e sirva com berries e o creme.

Observação do livro:
"A maneira tradicional de fazer este popular prato alemão, chamado Apfelpfannkuchen, é virar a panqueca no fogo. Isso pode ser complicado sem tirar as maçãs do lugar. Nesta receita, ela é finalizada no forno, uma opção muito mais fácil. A maioria das panquecas européias também vai ao forno. Freqüentemente panquecas européias contêm frutas ou carnes."

14.1.08

Pestare

Estava eu com um salmão na geladeira. Eu olhava para ele, ele olhava para mim. Mas nem eu nem ele conseguíamos decidir como prepará-lo.

Aí conheci um novo blogueiro de comida e, na primeira visita ao blog dele, encontrei a solução: pesto!

Salmão com pesto
- 1 filé de salmão
- Um punhadão de manjericão
- Um punhadão de nozes (originalmente, pinoles)
- 1 dente de alho (gente, coloquei três e não prestou. Quero dizer, ficou ardido pacas e até funcionou com o salmão. Mas não recomendo)
- Um punhadinho de queijo parmesão (originalmente, pecorino)
- Azeite, quanto baste
- Sal e pimenta branca moída, quanto baste

Tempere o salmão e prepare-o como preferir: eu gosto de enrolá-lo no papel alumínio até assá-lo e só abrir nos últimos cinco minutos, para pegar uma corzinha.

Quebre as nozes e pique grosseiramente o alho e o manjericão. Macere bem os três ingredientes no pilão, colocando o azeite aos poucos. Quanto começar a virar uma pastinha, coloque o queijo e acerte o sal e a pimenta.

PS: Vocês sabiam que existe um campeonato mundial do melhor pesto?

11.1.08

Arroz com uma frescurinha


















Um acompanhamento preferido para aves assadas é o arroz com champagne. É fácil de fazer e transforma a refeição numa festa.

Arroz com champagne e castanha-do-pará
- 1 xícara de arroz
- 1 1/3 xícara de água fervente
- 1 xícara de champagne
- 1/4 cebola bem picada ou passada no processador
- 1 colher de sopa de azeite (extra-virgem, de preferência)
- Sal a gosto
- Castanhas-do-pará (ou amêndoas) em lascas

Pique a cebola e reserve. Esquente a água. Lave o arroz e reserve. Esquente o azeite e acrescente a cebola - mantenha em fogo baixo até ela ficar transparente e reduzir.

Acrescente o arroz e frite rapidamente, mexendo sempre. Coloque a água fervente e o champagne. Por causa do champagne, adocicado, coloque um pouco mais de sal do que o normal. Deixe cozinhar normalmente. Se o líquido evaporar antes de o arroz cozinhar, acrescente mais água fervente.

Enquanto isso, coloque as lascas das castanhas em uma forma antiaderente, sem untar nem nada, no forno preaquecido, em fogo médio para baixo. Mexa de vez em quando, para torrá-las por igual - cuidado para não as queimar (também dá para fazer numa frigideira antiaderente). Reserve.

Quando o arroz estiver pronto, misture as castanhas e sirva imediatamente.

10.1.08

Perfeição, sei o teu nome

Numa era distante, uma das minhas mais queridas e antigas amigas, Giovana, fez uma musse de sobremesa para um jantar de fim de ano. Estávamos no primeiro ano de faculdade e éramos duras pacas, mas economizamos alguns tostões para ela colocar a mão na massa.

Minha lembrança de então é de que foi o dinheiro mais bem empregado do mundo. Aquilo era simplesmente a perfeição.

Racionalmente, poderia achar que minha lembrança gustativa estivesse influenciada pela alegria daquele jantar e a euforia juvenil. Contudo, anos depois, ela continua fazendo essa musse fantástica com o mesmo amor, sempre no meu aniversário, o presente mais esperado e desejado de todos.

A mais perfeita musse de chocolate do mundo, by Gi
- 200 gramas de chocolate ao leite
- 200 gramas de chocolate meio amargo
- 4 ovos
- 1 lata de creme de leite sem soro
- Raspas de chocolate branco e cerejas para decorar

Separe as gemas da clara. Rale o chocolate, não muito fininho, só pra ficar mais fácil de derreter e leve ao fogo em banho-maria. Ele está no ponto quando ficar uniforme e começar a fazer bolinhas.

Tire do fogo, junte as gemas e misture bem. Vai ficar uma maçaroca meio feia, mas não se assuste. Com uma colher de pau, misture bem para não deixar com muito gosto de ovo.

Feito isso, bata as claras em neve. Cuidado só pra não deixar muito dura (acho que pode deixar no final a musse mais firme que o desejável). Junte então o creme de leite ao chocolate e bata bem na batedeira até ficar um creme bem bonito.

Depois é só misturar a clara em neve. Tem gente que diz que isso deve ser feito só com a mão. Eu já fiz isso, mas também já bati à máquina de novo. Não lembro bem de qual jeito fica melhor. Ai é só pôr pra gelar e esperar endurecer.

9.1.08

Quém, quém

"Caiu no poço
Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi pra panela"

A marinada abaixo já foi testada em peru e pato, com resultados esplendorosos em ambos os casos: a carne fica macia e úmida.
Pato assado
- 1 pato (pato, duck, ente, canard, anatra*) inteiro
- 1 garrafa de vinho branco seco
- 4 dentes de alho
- 1/2 cebola
- Um choro de vinagre branco
- Folhas frescas de sálvia e salsinha
- Sal e pimenta branca a gosto
- 1 laranja

Descongele o bicho. Um dia antes, lembre-o de seu passado aquático e coloque-o debaixo da torneira, para tirar bem o tempero pronto - não esqueça de retirar o pescoço que está dentro (sim, dentro) dele.

Bata todos os ingredientes no liquidificador (menos a laranja) e coloque o bicho mergulhado nessa mistura, dentro de uma caixa tampada, dentro da geladeira. Não esqueça de jogar também esse caldo dentro dele. De vez em quando, sempre que lembrar, vá lá e vire o pato.

No dia, prepare o recheio que preferir. No caso, fizemos uma megafarofa molhada de farinha de rosca com carne desfiada do pescoço, cebola, manteiga, salsinha, castanha-do-pará e figos secos picados, mais salzinho e pimentinha. Deixe esfriar.

Tire o pato do marinado e recheie bem, apertando a farofa para não ficar espaço vazio. Costure o c* e amarre as pernas e as asas. Pincele manteiga em todo ele.

Eu costumo usar aqueles sacos próprios para assar, que economizam bastante tempo de forno: enfarinhe o saco, conforme as instruções, e coloque o bicho lá com um tanto do caldo em que ele nadou por tanto tempo, mais o suco da laranja. Feche, coloque-o em uma assadeira e faça um corte pequeno na parte superior, para deixar o ar quente escapar.

Asse em forno preaquecido de média para baixo por umas duas horas, duas horas e meia. Quando perceber que está assado, abra o saco e deixe-o exposto para dourar - o que acontece rapidamente, como você pode ver na foto acima.

(Minha apresentação não foi das mais glamourosas. Tentarei melhorar da próxima vez.)



* Um dos presentes fofos que ganhei é o "Dicionário Gastronômico", de F. Carli e E. Klotz, que traduz ingredientes e preparos para espanhol, inglês, alemão, francês e italiano.

8.1.08

Presentes

Coisa mais gostosa as pessoas queridas descobrirem o que você ama (além delas, claro) e alimentarem esse amor (pelas pessoas e pelo hobby).

Neste Natal e neste aniversário, ganhei presentinhos fofos ligados à culinária. De repente o mundo real virou virtual que virou real de novo.

Aos poucos inauguro cada item, às vezes juntos, em combinações mil. Obrigada, pessoas lindas!

7.1.08

Reciclagem

"O pato vinha cantando alegremente
'Quém, quém!'
Quando o marreco sorridente pediu
Para entrar também no samba."

Crepe de pato com camembert
- 1 xícara de farinha de trigo
- 2 ovos
- 1/2 xícara de leite desnatado
- 1/2 xícara de água + um tantinho, se precisar
- 1/4 de colher de chá de sal
- 2 colheres de sopa de manteiga derretida
- Carne desfiada do pato assado para a ceia de reveillón :)
- Nacos de camembert
- Sálvia fresca

Bata os ovos e misture com a farinha. Acrescente aos poucos o leite e a água, depois o sal e a manteiga, até a massa ficar uniforme.

Se tiver crepeira, bem; se não, jogue em uma frigideira antiaderente quente, girando-a até a massa tomá-la toda - quanto mais fino o crepe, melhor. Deixe dois minutos de cada lado e, se quiser, coloque uma folha de papel-toalha entre cada um.

Recheie enquanto quente, de preferência, para o queijo derreter. Tempere com azeite, folhas rasgadas de sálvia e o que mais quiser.


3.1.08

Macacos me mordam!

O bioantropólogo britânico Richard Wrangham defende que viramos Homo sapiens devido à... cozinha! Ele acredita que os cérebros aumentaram quando, pelo cozimento, a digestão ficou mais fácil e as calorias se proliferaram. Brilhante, não?

Uma reportagem sai na edição deste mês da revista "Scientific American", versão EUA. Mas o site traz uma entrevista com Wranham.

And you believe cooking with that fire spurred the development of modern humans.
Here's the way I tend to ask the question: I tend to think of the advent of cooking as having a huge impact on the quality of the diet. In fact, I can't think of any increase in the quality of diet in the history of life that is bigger. And repeatedly we have evidence in biology of increases in dietary quality affecting bodies. The food was softer, easier to eat, with a higher density of calories—so this led to smaller guts, and, since the food was providing more energy, we see more evidence of energy use by the body. There's only one time it could have happened on that basis; that is, with the evolution of Homo erectus somewhere between 1.6 [million] and 1.8 million years ago.


PS: A Folha também publicou um texto sobre o tema, anos atrás (link para assinantes).

A vitória é doce

Trocentos anos atrás, eu nem sabia cozinhar direito, mas conseguia fazer caramelo que era uma beleza, sem medida nem nada. Enquanto minha mãe penava, eu fazia a calda do pudim com um pé nas costas. Escolhia até a quantidade, a cor, se seria feita na panela ou no microondas, tudo na base da beiçada. Ou seja, um espetáculo.

De repente, não mais do que de repente, um dia acordei e descobri ter perdido a mão. Passei os últimos cinco anos só fazendo farofa atrás de farofa, quilos de açúcar jogados no lixo. Não adiantava seguir receita: simplesmente não saía. Minha mãe, que aprendeu a fazer a calda no microondas, não podia acreditar no que escutava.

Em 2008, resolvi não ser mais tiranizada pela maldição do caramelo e encarei o desafio de frente. Não saiu na primeira tentativa, nem na segunda. Na terceira, já suando frio, com os olhos vidrados na panelinha enquanto os segundos pareciam horas, vi aos poucos a calda chegar num ponto bom, dourar linda. Vim, vi e venci.

Salada de camembert e nozes caramelizadas
- Folhas verdes
- Palmito
- Um bom camembert
- Nozes inteiras
- 250 gramas de açúcar
- 250 ml de água
No dia anterior, ferva os palmitos para evitar o botulismo, deixe-os esfriar e guarde-os na geladeira com água, sal e um pouco de vinagre branco.
Numa panela, coloque o açúcar e a água numa panelinha e leve ao fogo baixinho, para derreter o açúcar. Quando isso acontecer, aumente um pouco o fogo, fique de olho e não mexa. De vez em quando, passe um pincel com água nas bordas, para dissolver os cristais. Quando chegar na cor de caramelo, desligue o fogo e tire do fogão - cuidado porque o caramelo ainda escurece um pouco mais. Mergulhe as nozes, tire-as com cuidado com um garfo e deixe-as secando em um prato de porcelana limpo e seco.
Monte a salada com as folhas verdes, fatias de camembert, os palmitos cortados em rodelas e as nozes. Tempere com um bom azeite, sal e a melhor pimenta que tiver em casa.

2.1.08

Favas contadas

Faço aniversário no iniciozinho de janeiro, então ano novo tem duplo sentido para mim: todos aqueles balanços sobre o que passou e o que virá vêm sempre em dobro.

Contudo, não contava com um inferno astral ao quadrado, que resolveu se manifestar em todo seu esplendor no dia 31 de dezembro, durante a feitura da ceia - afinal, como bem lembrou o namorido, o mês foi tão cheio de responsabilidades e compromissos que nem tive tempo antes para deixar qualquer coisa sair do prumo.

Começou com a indefinição sobre a sobremesa, em que as favas de baunilha compradas a preço de banana deveriam ser usadas. Queria ovos nevados, namorido não gosta. Ele queria um pudim de baunilha francês, eu achei bobo. Depois de dias de debate, resolvemos apostar no semi-freddo com torrones do Jamie Oliver.

No dia anterior, compramos o torrone errado (deveria ser crocante, não molengo) e o creme de leite da marca que odiamos, pois só havia ele. Tampouco achamos o pistache sem sal recomendado. Em cima da hora, resolvemos pular para a próxima receita e fazer o semi-freddo com figos e mel. Corre namorido atrás de figos frescos e secos, toca eu separar os ingredientes.

Batemos tudo certinho e, na hora de misturar, o creme começou a talhar e azedar! Teoria do namorido é que figos são ácidos, mas, poxa, carambolas! (Pelo menos, a foto ficou bonita.) Jogamos tudo fora.

Depois de muito mal humor (meu) e desespero (de ambos), ele disse para tocar os ovos nevados, paciência. No que coloco o leite para ferver, ele talha também - azedo! A vontade de chorar foi forte.

Respirei fundo, corri para a padaria e comprei mais leite, ovos e açúcar. Coloquei uma música bem calma, limpei a bagunça anterior e me concentrei. Três favas de baunilha e quatro horas depois, a uruca e o inferno astral se afastaram. O resultado foi satisfatório: o creme ficou muito doce para o meu gosto, mas acabou providencial para afastar a ressaquinha de champagne...

Ovos nevados
- 4 ovos
- 1 fava de baunilha
- 2 1/2 xícaras de leite integral
- Uma pitada de cardamomo em pó (se tiver grãos, use 2 a 4)
- 1/2 xícara + 1 colher de sopa de açúcar (foi demais para meu gosto: melhor 1/3 ou 1/4 de xícara)
- 1 pitada de sal
- Nozes quebradas

Abra a fava com uma faca afiada, no sentido longitudinal, e raspe com cuidado as sementinhas. Coloque-as (sementes + fava) numa panela com o leite e o cardamomo. Ferva, desligue e tampe bem, com um pano por cima, por 30 minutos. Tire a fava (e as sementes de cardamomo, se as utilizou) e ligue novamente o fogo baixo, em ponto de quase fervura constante.

Bata as claras em neve com o sal. Quando estiverem quase no ponto de claras duras, acrescente a colher de açúcar e bata por mais um ou dois minutinhos. Jogue grandes colheradas das claras no leite, uma a uma. Deixe cozinhar 1 a 2 minutinhos de cada lado, retire com uma escumadeira e reserve sobre papel-toalha. Desligue o fogo e deixe o leite amornar.

Faça o creme: bata as gemas com o restante do açúcar até esbranquiçar. Acrescente devagarinho o leite morno, sem parar de bater. Leve essa mistura ao fogo novamente, em fogo médio, e mexa constantemente com uma colher de pau. Quando começar a ensaiar engrossar, abaixe o fogo e mexa vigorosamente até ele engrossar mesmo, quando o fundo da panela começa a aparecer. Desligue o fogo, mexa por mais uns minutos (para o creme não pegar no fundo) e deixe esfriar.

Coloque o creme no recipiente em que vai servir a sobremesa. Disponha as claras por cima, polvilhe as nozes, cubra com filme-plástico e deixe na geladeira por pelo menos 30 minutos antes de servir.